segunda-feira, 12 de março de 2018

Os pássaros do Hospital Medianeira


O hospital Medianeira é uma grande construção horizontal, com corredores e jardins internos, onde seres iluminados do plano físico e do astral labutam pela sobrevivência humana na cura das enfermidades, nos nascimentos e na morte!


Nascimento e morte, saúde e doença coexistindo lado a lado, mediados pela Mãe Maria.
Diariamente caminhamos por um corredor claro, asseado, ladeado de corredores transversais, divididos em alas específica, cirurgia, UTI, maternidade.
Áreas ajardinadas acompanham a extensão dos corredores, abrindo espaço para adentrar a natureza.
Cada janela dos quartos revela-se não só na visão do verde, mas na audição dos cantos das aves.


Sabiás, tico-ticos, chopins, pombas e rolas, canários e bem-te-vis refrescam a alma com seus cantos. No entanto o sabiá-laranjeira comanda a orquestra, transfigurando-se em mensageiro da esperança. Nesses momentos as pessoas por perto paralisam suas preocupações para apreciarem a beleza de seu canto.
Uma dezena de dias convivi como acompanhante de meu marido neste hospital, que chamo de spa de cura. Dividia meu tempo nos cuidados com o doente, em orações na capela interna,  e embevida pelos seres alados nos nichos verdejantes.
Lembro que logo ao chegar, caminhando pelos corredores, um beija-flor verde resplandecente apareceu na minha frente, parecendo saudar-nos com todo seu brilho. Depois foi a vez do sabiá-laranjeira, saltitando pelos gramados escondendo-se entre os arbustos com seu olhar marcado de cor laranja, observando desconfiado. Porém todas as manhãs, antes do clarear do dia, despe-se de sua timidez, desafiando a orquestra humana com seu canto ritmado, às vezes acompanhado por tico-ticos, num repertório mágico acordando os mais puros sentimentos da alma, com certeza louvando os nascimento.



Mas onde há vida há morte e lá se vai um ser alado em sacrifício anunciando uma passagem para o além ou uma dor profunda, prostrado no chão sem vida, após o choque na parede envidraçado do corredor.


- Muitos batem no vidro e morrem! - informou a funcionária ao me ver observando a ave inanimada.
Compreendi que sim, são anúncios de vida e morte pelos anjos alados. Mas senti temor pelas paredes de vidro que enganam os pequeninhos de asas. Como fazer para evitar isso? Como avisar da morte sem auto-sacrifício? Pobre pombinha esparramada no chão! O vidro que desnuda a beleza do verde, traz a ilusão fatal da continuação do outro lado.
Silêncio, desliguem a TV, agora são os suiriris no topo das árvores mais altas, anunciando o verão.


Seu canto lembra seu nome, abrem as asas, os bicos, voam e voltam, às vezes em duplas. Seu peito amarelo brilha contra o céu, enfeitando o jardim interno.
Em frente à nossa janela vemos pombas disputando com as rolinhas um poleiro para descansar sobre um arbusto.


Quanta graça e colorido com sua pernas avermelhadas, movimentando os galhos e folhas. Abaixo desta mesma árvore admirei-me com uma cena curiosa, um filhote de tico-tico, às voltas com outro filhote, porém preto e maior, lembrei do hábito da mamãe chopim, que obriga outras espécies a criarem seus filhotes, através da distribuição de seus ovos  pelos ninhos da vizinhança!
E de novo canta o sabiá, numa melodia cadenciada, às vezes com acompanhamento distante de um bem-te-vi, formando um arranjo cadenciado sem limite de espaço.


O joão-de-barro também encanta, saltita pelo gramado dos jardins internos, mas sem a timidez do sabiá, pois não foge quando observado.







O jardim no coração do hospital desabrocha em flor. Hibiscos vermelhos atraem beija-flores.









 Seus arbustos escondem muitos ninhos, piados de alerta são ouvidos pelos que se aproximam desavisados. Bancos de ferro convidam para o descanso, seus encostos  também são poleiros para o sabiá, que cisca no chão o alimento dos filhotes e lá vai ele com o bico cheio de lagartas ou de frutinhas.













Uma dezena de dias, livre da rotina da casa, mas não em agonia, na verdade em harmonia, pois que a doença é o cartão vermelho para pararmos e refletirmos sobre o nosso caminho, a doença nos chama a atenção, nos avisa que estamos por caminhos embaraçados e precisamos nos achar.
Agradeço de coração à esse espaço abençoado que me fez refletir sobre a doença em meio a seres alados!
Vera E. Medeiros
Fotos de novembro de 2017

Hospital do Círculo
Bairro Jardim América - Caxias do Sul - RS

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