Conhecemos
muitos animais pelos seus nomes comuns, mas esses nomes
diferenciam-se em cada região. Lembro que em uma visita ao interior
da Amazônia fiquei impressionada de ver quero-queros na beira de um
açude, sendo chamados de tetéus, os quero-queros. Essas aves são
conhecidos pelo seu comportamento de sempre alerta, sentinelas, um
fato curioso é que seu nome, Tetéu, dá apelido às pessoas com
essas características naquela região.
Para
evitar as confusões que prejudicariam as pesquisas científicas
foram criados os nomes científicos. As espécies podem ter diversos
nomes populares, porém o nome científico é único, escrito em
latim, grego ou latinizado, composto de dois nomes que juntos dão o nome à
espécie segundo suas características. O latim é considerado uma
língua morta, não há nenhum país que fale essa língua,
facilitando o seu uso no meio científico.
Essa
solução foi criada pelo botânico Carl von Linnaeus em 1735, que
criou normas para nomear todos os seres vivos.
Por
exemplo o nome científico do tucano-de-bico-verde, considerada a ave
que mais avança ao sul, é Ramphastos
dicolorus nomeado por Linnaeus em 1766.
Examinando o nome, ramphastos
significa longa ou grande espada, di
em latim é separado e colorus
é colorido, assim concluímos que é uma ave colorida com longo
nariz, bico.
Tucano-de-bico-verde
– Ramphastos dicolorus
Quem
foi Carl Linnaeus?
Foi
o mais ilustre botânico conhecido no mundo, nasceu no dia 23 de
maio de 1707 em Stenbrohult, Suécia. Filho de um ministro luterano e
botânico amador. As flores, que decoraram seu berço e o
acompanharam na infância fazem parte dos seus primeiros encantos em
relação a diversidade da natureza. Gostava de aprender o nome das
plantas com seu pai e isso marcou sua vida, pois tentou ordenar de
forma científica o amontoado de informações sobre elas, através
de um sistema original onde cabia todos os elementos da natureza.
Formou-se em medicina, na época em que a botânica era um ramo da
medicina.
Antes
dele, Aristóteles, Leonhart Fuchs, John Ray e Joseph Pitton de
Tournefort fizeram a sistematização da natureza cada qual com
características distintas. Linnaeus foi além deles, marcou o
nascimento da taxonomia moderna, com uma nomenclatura usada até
hoje, marcada pela sua paixão pela ordem, pretendia encontrar um
método natural de classificar as plantas e animais em grupos, queria
desvendar a lógica secreta da criação biológica natural, divina.
Agrupou
os organismos em categorias que chamou de gêneros. Sua classificação
era inédita, com novas concepções sobre os reinos da vida,
incluindo o reino vegetal, animal e mineral. Cada ordem foi
subdividida em gêneros e cada gênero em espécie. Concebeu 6
classes dentro do reino animal: Quadrupedia, Amphibia, Vermes, Aves,
Pisces e Insecta. Linnaeus catalogou cerca de 7.700 plantas e 4.400
animais. Criou também um grupo de criaturas quiméricas, que chamou
de Paradoxa, criaturas desnorteantes como o unicórnio, fênix,
dragão, sátiro e um sapo gigante que se metamorfoseia num pequeno
sapinho. Mas na verdade sua especialidade eram a flora, sua
classificação do reino vegetal foi muito inovadora e abrangente.
Baseou-se na estrutura sexual das plantas e usou os estames e
pistilos para caracterizar seus grupos, assim definiu 23 classes
organizando todas as plantas floríferas conhecidas na sua época.
Criou a 24ª classe para as plantas que não tem flor, as
criptógamas. Cada classe foi subdividida em ordens com base nos
pistilos. Exemplos de nome de classes: Monandria, Diandria, Triandria
(palavras que significam, um marido, dois maridos e três maridos).
Muitas vezes foi humilhado por seus contemporâneos devido a essas
metáforas sexuais, mas isso não impediu que suas ideias se
alastrassem por toda a Europa. Ele apreciava a diversidade da
natureza e acreditava que era necessário ordenar, nomear, contar,
estudar e compreender todas as criaturas da terra, para isso era
necessário a observação e um sistema.
Em
uma expedição pela Lapônia coletou muitos materiais e registrou em
um diário, que publicou com o nome de Flora Lapponica, antes
de completar 25 anos em 1782.
Linnaeus
estabeleceu o sistema binomial em latim para nomear as plantas,
estendendo esse sistema a todas as espécies animal e vegetal. O ser
humano passou a ser conhecido como Homo Sapiens. Classificou em
ordem alfabética 500 gêneros de plantas, porém Linnaeus viveu no
período das grandes navegações e milhares de novas espécies foram
desvendadas, tornando mais complexo e mais problemática o sistema
criado por ele.
Escreveu
muitos livros como Systema Naturae (1735), Flora Suecicam (1745),
Philosophia Botanica (1751), Species Plantarum (1753), este
último onde estabeleceu o sistema binomial em latim.
Tornou-se o mais famoso naturalista da Europa,
tornando-se um enciclopedista da flora e da fauna global. Seus
“discípulos” como ele chamava os estudantes que cooperavam com
ele, lhe enviavam as espécimes de outras regiões e do Novo Mundo,
pois Linnaeus não viajou pelas novas terras descobertas, mas
sistematizava todo o material que recebia.
Linnaeus
não foi um viajante, homem sedentário, viveu em Uppsala, seu mundo
era sua biblioteca, seus manuscritos, coleções, a universidade, o
Jardim botânico e sua propriedade rural, Hammarby. Viveu até 10 de
janeiro de 1778, sepultado na Abadia de Westminster na Suécia.
Linnaeus
acreditava que o conhecimento deveria ser transmitido e não
guardado, por isso sua viúva vendeu suas coleções ao inglês James
Edward Smith que fundou uma sociedade científica Linnean Society of
London, ali os tesouros de Linnaeus estão guardados em um cofre no
subsolo, mas disponíveis aos estudiosos. A casa de campo Hammarby
hoje é museu, onde pode-se ver sua coleção de cajados, seu barrete
vermelho, retratos de seus filhos e do macaco de estimação. Flores
recortadas de livros enfeitam as paredes do seu quarto, mostrando
todo o amor que o botânico tinha às plantas.
Nossa cidade, Caxias do Sul homenageou esse botânico através da Universidade de Caxias do Sul, isso foi em 2007 por ocasião do tricentenário do nascimento do botânico, (1707), com palestras, exposição e inauguração do Jardim de Linnaeus, um espaço dentro do Jardim Botânico de Caxias do Sul, idealizado pelo então coordenador do Jardim Botânico Ronaldo Wasum, falecido em 2014. Lembro que na época a escola em que trabalhava participou da inauguração e também de passeios de estudo, onde conhecemos o espaço com espécies vegetais classificadas por Linnaeus.
Nossa cidade, Caxias do Sul homenageou esse botânico através da Universidade de Caxias do Sul, isso foi em 2007 por ocasião do tricentenário do nascimento do botânico, (1707), com palestras, exposição e inauguração do Jardim de Linnaeus, um espaço dentro do Jardim Botânico de Caxias do Sul, idealizado pelo então coordenador do Jardim Botânico Ronaldo Wasum, falecido em 2014. Lembro que na época a escola em que trabalhava participou da inauguração e também de passeios de estudo, onde conhecemos o espaço com espécies vegetais classificadas por Linnaeus.
Folder da inauguração do Jardim de Linnaeus com ilustração da vinha, tão comum na nossa região, classificada por Linnaeus.
Bibliografia:
Texto baseado na reportagem da:
National
Geographic, Abril SP,
junho 2007, no. 87 “A Paixão pela Ordem” pg.121 à 134
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